Uma música, antes de revelar sua beleza, foi composta por pequenas notas ouvidas entre acertos e erros de um compositor. Este blog traduz algumas "notas" ouvidas e discutidas na disciplina: "Tendências contemporâneas de currículo" ministrada pela professora Rita Stano da UNIFEI. Como eterno professor-compositor, entre acertos e erros tento compor "músicas" através de "pensamentos e reflexões".

sexta-feira, 30 de março de 2012

O pensamento curricular no Brasil



O pensamento curricular no Brasil
Alice Casmiro Lopes
Elizabeth Macedo 

*A produção sobre o currículo no Brasil estava atrelada aos EUA até os anos 80 (contexto político da guerra fria com o plano norte americano de ajuda à America Latina através de acordos bilaterais) -  Modelo funcionalista
*A partir de 1980, com o processo de redemocratização, surgem no cenário as vertentes marxistas de cunho sociológico: pedagogia histórico crítica e pedagogia do oprimido que tentam obter hegemonia nos discursos educacionais e na capacidade de intervenção política.   -No cenário internacional, os pesquisadores brasileiros passam a ter influencia de outros autores ligados à Nova Sociologia da Educação, como Apple e Giroux, inclusive de outros autores europeus.
*O Brasil convive então em 1990 com esta múltilas influencias que marcam o campo do currículo (Compreensão das relações de poder, contextualização política, econômica e social na compreensão de currículo)
*Construção social do conhecimento: relações do conhecimento científico e senso comum: multireferencialidade do currículo como complexo, exigindo uma rede múltipla de referencias para a sua interpretação.
*Hibridismo é que marca o campo de currículo brasileiro na segunda metade de 90 sendo que diversos atores, ligados a instituições ou não, procuram dar legitimidade ao seu discurso disputando entre si quem tem autoridade na área.
*Instâncias institucionalizadas conferem legitimidade nos discursos de autores, como por exemplo,  instituições de ensino e pesquisa no qual o mais significativo é o GT de currículo que vem constituindo como um dos principais fatores capaz de garantir legitimidade na área para se falar de currículo.  
*Produção de currículo no Brasil tomando os três principais grupos fonte de trabalhos, livros, revistas de instituições especializadas: perspectiva pós-estruturalista, currículo em rede e história do currículo e constituição do conhecimento escolar.

1- Perspectiva pós-estruturalista

*Principal representante: Tomaz Tadeu da Silva
*Primeiros trabalhos: tem como objeto central a análise das conexões entre os processos de seleção, organização e distribuição dos currículos escolares e a dinâmica de produção e reprodução da sociedade capitalista.
*Procura, posteriormente, efetivar um diálogo entre as teorias críticas e pós-modernas
*Defende que as teorizações pós-estruturalistas sejam problematizadas, tendo por referencia os princípios fundamentais da teoria crítica da educação e seu projeto político.
*Com base eu Foucaut, desenvolve o questionamento da idéia de que o saber e o conhecimento se constituem como fonte de libertação, esclarecimento e autonomia. Isso porque não há um estado de não-poder, mas sim um estado permanente de luta contra posições e relações de poder.

2- Currículo em rede

*Cotidiano e formação de professores
*Superar o enfoque disciplinar e resgatar o conhecimento em sua totalidade através de eixos curriculares entendendo o conhecimento como prático social e histórico incorporados á cultura
*Centralidade na prática dos sujeitos que vivem o cotidiano curricular sendo que a formação se processa em forma de tecido, ou seja, na articulação de várias esferas cuja compreensão teórica evolve os espaços cotidianos em que esses currículos acontecem valorizando o fazer curricular como uma produção de sentido (Desconstrução do binarismo entre teoria e prática)
*Experiência curricular se desenvolvendo em espiral de complexidade em que o momento individual e coletivo seriam alternados e compostos por disciplinas e atividades múltiplas
*Na construção individual, situam-se os múltiplos contextos que constituem o sujeito enquanto redes de subjetividade
*Espaço prático em que a teoria é tecida, ou seja, como se dá a tessitura social do conhecimento questionando uma redefinição sobre quais saberes devem ser valorizados

3- história do currículo e constituição do conhecimento escolar.

*Pensamento curricular brasileiro e o estudo das disciplinas escolares, bem como as influencias internacionais na constituição do campo do currículo
*Fenômenos culturais da sociedade contemporânea no currículo: temática do multiculturalismo
*História das políticas curriculares implementadas e da função do professor  na constituição do campo cuja formação se orienta para a valorização das relações entre teoria e prática e para a inter-relação das dimensões científica e política da formação.
*Trabalhos em história das disciplinas: consolidação de uma disciplina ligada á tradição acadêmica relacionada também à constituição do saber escolar: como as disciplinas se definem e se articulam com os demais saberes sociais- relação entre conhecimento científico e conhecimento cotidiano. Transposição didática e de disciplinarização segundo os objetivos sociais da escolarização (especificamente na figura do professor)

Tendências

*Diversidade de tendências que definem o campo do currículo contribuindo para a discussão de novas identidades para o campo, tornando mais difusa a constituição de uma teoria do currículo
*Tendência de uma certa discussão da cultura devido ás discussões sobre multiculturalismo ao associar a educação e o currículo aos processos culturais mais amplos o que confere uma certa imprecisão no campo intelectual do currículo
*A indefinição do capital cultural leva, por vezes, a desconsiderar a especificidade da educação e dos processos curriculares.  Para se considerar uma abertura a diversos fluxos de significados (característica do multiculturalismo) deve-se ter habilidade para abrir caminho nesses outros campos afim de manipular seu sistema particular de significados.
*Importância dos fluxos de significados para o campo do currículo na media em que se rompe as divisões da áreas de saber, revalorizando discussões e aproveitando elementos do seu campo de origem


Algumas considerações e indagações

A partir da década de 80, o Brasil parece se tornar “independente” para  vincular as pesquisas e teorias do campo do currículo  com a formulação e implementação de políticas educacionais. Certamente esta fase é uma fase de profunda crise nos termos de procurar uma identidade nacional para o currículo brasileiro e o início de um processo em que mudanças significativas são visadas frente a este contexto.
Interessante notar como as vertentes sociais, relacionadas ao Marxismo influenciaram o pensar sobre currículo, até porque uma sociedade capitalista e neoliberal estava em ascensão devido ao contexto histórico do fim da guerra fria e “decadência” da União Soviética. Neste cenário surge a multireferencialidade do currículo procurando entendê-lo dentro do contexto social, cultural, econômico e político.
Uma das vertentes que mais julguei interessante foi a do currículo em rede. Essa é a vertente que mais se aproxima da realidade do currículo ao mencionar que é na prática em a teoria é tecida ao considerando o contexto no qual a escola, professores e alunos estão inseridos. Essa é a concepção que mais atenua a grande distância entre currículo oficial e currículo vivenciado.


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